Indústria bélica em SP dá licença remunerada e funcionários vão completar dois anos sem trabalhar

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Por Expressão Naviraí em 04/06/2024 às 04:23:14

Avibras, em Jacareí (SP), vive crise financeira há pelo menos dois anos e trabalhadores seguem paralisados. Avibras em Jacareí, SP

André Luís Rosa/ TV Vanguarda

A falta de pagamento de salários fez com que os funcionários da Avibras – companhia bélica brasileira – em Jacareí, no interior de São Paulo, iniciassem uma paralisação nos serviços que já dura quase dois anos.

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Foi em setembro de 2022 que cerca de 1,2 mil trabalhadores iniciaram uma greve na unidade, que vive uma crise financeira e chegou até a abrir processo de recuperação judicial.

Na última semana foi encerrado o prazo do layoff (suspensão temporária do contrato de trabalho) estabelecido pela empresa e, agora, a Avibras anunciou a licença remunerada para pelo menos 400 funcionários da unidade. O pagamento será feito por prazo indeterminado.

O início da greve

Tudo começou no dia 9 de setembro de 2022. Na ocasião, os trabalhadores da Avibras deram início à paralisação que se estende até hoje. O motivo era a falta de pagamento dos salários dos meses de julho e agosto daquele ano.

Outra questão que embasou a paralisação dos funcionários à época foi o término do layoff previsto para o fim de setembro daquele ano. Os trabalhadores reivindicaram garantia de estabilidade para todos os funcionários, além do pagamento dos salários atrasados e sistema de trabalho rotativo, com revezamento entre os grupos de layoff e trabalhadores nas fábricas.

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Quatro dias depois, em 13 de setembro, os trabalhadores realizaram uma nova assembleia e decidiram manter a greve na unidade.

Ainda em setembro de 2022, a Avibras decidiu prolongar o layoff por mais cinco meses. A medida atingiu 420 funcionários da unidade em Jacareí.

Além do layoff, a empresa anunciou que iria estender a garantia de estabilidade por pelo menos mais três meses. Durante o acordo, a Avibras chegou a afirmar que faria o pagamento dos salários atrasados aos funcionários.

Fábrica da Avibras em Jacareí

Reprodução/TV Vanguarda

Em maio de 2023, o Sindicato dos Metalúrgicos afirmou que os trabalhadores da Avibras estavam desde setembro sem receber os pagamentos. Na ocasião, a Avibras apresentou uma nova proposta para pagar os funcionários.

À época, o Jornal Vanguarda teve acesso a um ofício enviado pelo Exército para a direção da Avibras, no qual o chefe do estado-maior afirmava ter a intenção de alocar recursos em projetos ou produtos desenvolvidos pela empresa, em um valor aproximado de R$ 216 milhões.

No entanto, o Exército reforçou na carta que era uma intenção condicionada a obtenção de créditos e a capacidade da empresa de honrar seus compromissos.

O valor de três salários atrasados seriam pagos somente após o recebimento dos valores pelo contrato com o Ministério da Defesa. Na proposta enviada ao Sindicato, a Avibras afirmou que queria que pelo menos 100 trabalhadores voltassem à fábrica para que a produção fosse retomada.

Apesar dos planos, os meses se passaram, a operação não foi retomada integralmente e os trabalhadores seguem sem receber os salários, de acordo com o sindicato da categoria.

Além disso, os funcionários continuam sem trabalhar na unidade, pois 800 profissionais continuam em greve por causa da falta de pagamento e outros 420 trabalhadores que estavam em layoff foram colocados agora em licença remunerada.

Avibras faz nova proposta para pagamento de salários

Recuperação judicial

O pedido de recuperação judicial foi feito pela Avibras antes da paralisação, em março de 2022. O plano de recuperação judicial da empresa, no entanto, foi aprovado pelos credores em julho do ano passado, durante uma assembleia.

Além do voto do órgão que representa os trabalhadores, a recuperação judicial teve voto favorável da maioria dos integrantes de outros três grupos de credores: bancos, quirográficos e microempresas.

Avibras em Jacareí, SP

Claudio Vieira/Sindicato dos Metalúrgicos

Ainda em julho do ano passado, a Avibras fechou uma parceria com uma empresa da Arábia Saudita para a fabricação de equipamentos de defesa. O valor da negociação não chegou a ser divulgado pela empresa à época.

A parceria foi firmada com a empresa saudita SCOPA Defense durante o Fórum de Investimentos Brasil-Arábia Saudita realizado na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na cidade de São Paulo.

Trabalhadores da Avibras fazem manifestação contra atrasos nos salários em São José dos Campos, SP.

José Eymard/TV Vanguarda

Manifestação e negociações

Em março deste ano, os trabalhadores da Avibras fizeram uma nova manifestação contra a falta de pagamentos pela empresa. A manifestação reuniu cerca de 100 funcionários em frente à unidade, em Jacareí.

Na ocasião, após uma assembleia, manifestantes estouraram o cadeado do portão da Avibras e invadiram a empresa. Eles pretendiam montar um acampamento no pátio.

Até abril de 2023, a Avibras já acumulava uma dívida de R$ 376 milhões. Desse total, R$ 14,5 milhões eram de dívidas trabalhistas, de acordo com o sindicato da categoria.

Manifestantes estouram cadeado do portão e entram na Avibras em São José

Pouco menos de um mês após as manifestações, a Avibras iniciou as negociações para a venda da empresa com a australiana DefendTex. À época, a Avibras afirmou que a negociação estava avançada e que visava a sua recuperação econômica.

"A Avibras Indústria Aeroespacial e a DefendTex comunicam que vêm mantendo tratativas avançadas para viabilizar um potencial investimento que visa a recuperação econômico-financeira da Avibras, de forma a manter suas unidades fabris no Brasil, retomar as operações o mais breve possível e manter o fornecimento previsto nos contratos com o governo brasileiro e demais clientes", dizia a nota.

Após o comunicado, o Sindicato dos Metalúrgicos informou que é contra a venda da Avibras e que considera a negociação um 'ataque à soberania nacional'. A associação que representa a categoria disse ainda que seguiria mobilizando os metalúrgicos pela regularização dos salários (que estão atrasados há 11 meses) e pela 'estatização da Avibras'.

No fim do mês passado, a Justiça pediu para que a Avibras prestasse esclarecimentos sobre as negociações da venda à DefendTex. O juiz Maurício Brisque Neiva determinou que os esclarecimentos fossem feitos ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e à Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

O g1 entrou em contato com a Avibras, que disse que não vai se manifestar sobre a determinação da Justiça.

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Fonte: G1

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