Separadas dos pais pela hanseníase, Angelita e Maria podem ter pensão vitalícia

Até os 8 anos de idade, Angelita de Arruda Castro, hoje com 54, viveu longe dos pais.

Por Expressão Naviraí em 02/11/2023 às 17:39:26

Até os 8 anos de idade, Angelita de Arruda Castro, hoje com 54, viveu longe dos pais. Abrigada no Educandário Getúlio Vargas, ela chegou a ser entregue para a adoção, os pais descobriram e pediram ajuda para encontrar a menina, que ao invés de morar com eles, voltou para o orfanato. A saga foi porquê tanto a mãe quanto o pai de Angelita eram hansenianos e numa época em que o preconceito era grande com quem tinha a doença. João Sidônio de Paula Castro e Ana de Arruda Castro, pais de Angelita, passaram oito anos no Hospital São Julião, no bairro Nova Lima, internados e afastados do resto da sociedade assim como outros milhares de "leprosos", como eram chamados. Eles visitavam a filha uma vez ou outra no Educandário e só puderam ficar com ela de vez porque conseguiram a cura. Por conta dessa história de separação que quase foi definitiva, Angelita está prestes a conseguir um benefício como forma de reparação devido à distância que enfrentou dos pais. O Senado Federal aprovou ontem mudança em lei que já previa pensão vitalícia aos acometidos pela doença. Agora, os filhos, distanciados compulsoriamente dos pais podem ganhar o mesmo direito, caso o presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) sancione a lei. "A pensão é necessária sim, porque nós fomos privados de muita coisa. Quem conseguiu se manter fora do São Julião só conheceu a vida quando saiu de lá, porque a colônia tinha cadeias, coisas estranhas e dependendo do que acontecia, os doentes iam presos. São muitas lembranças ruins e coisas que me deixaram revoltada muito tempo com meus pais como filha", relatou Angelita, que atualmente está desempregada. O texto aprovado no Senado garante que a pensão seja repassada aos filhos, em valor não inferior a um salário mínimo, que atualmente é de R$ 1.320,00, mas não tem efeito retroativo. "Não vai pagar o que a gente sofreu de preconceito, os traumas que tivemos de ouvir as pessoas falarem: "filho de leproso". Qualquer dinheiro não paga isso, mas ajuda a ter vida uma vida um pouco melhor, até Deus levar a gente". Desta vez, a fala é de Maria Marta Ferreira dos Santos, hoje com 56 anos e que só teve contato com a mãe aos 15. Doméstica, ela diz que nem mesmo oportunidade de estudar ela teve. A fazenda ficava em Rondonópolis (MT). "Na época eu estava com 5, 6 anos e tive que ficar separada da minha mãe. Fiquei com minha irmã mais velha na fazenda, e não tive contato nenhum com minha mãe até uns 15, 16 anos", relatou. Certa vez, ela, a irmã e demais filhas de dona Didir Alves Maciel foram informados que ela havia falecido, isso por volta dos 10 anos de idade de Maria Marta. Uma das irmãs dela, revoltada e indignada com a própria história foi procurar pela mãe e descobriu, no Hospital São Julião, que ela havia recebido alta já há alguns anos e que não havia morrido. Foi então que descobriram dona Didi morando no bairro Nova Lima e longe das filhas por acreditava que nenhuma queria estar com ela já que era uma "leprosa". Era por volta do ano de 1982 quando Maria Marta voltou a ter contato com a mãe, depois de ter sido separada dela aos 5 anos. "Não conseguia chamar ela de mãe, era uma desconhecida pra mim, né? Mas aos poucos fomos tendo mais contato, tivemos certa convivência, até eu entender mesmo que era minha mãe", contou. Dona Didi morreu 14 anos atrás, de pneumonia. Já a mãe de Angelita continua viva, tem 80 anos, mas não quis tirar fotos. Ela não tem nenhuma sequela da hanseníase. O pai dela, João Sidônio, morreu aos 42 anos, em 1985, com problemas nos rins. Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News .

Fonte: CGNEWS

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