"Filho pobre", Carnaval de blocos na Esplanada merecia muito, muito mais

A aglomeração de milhares de pessoas é o indicativo de que o fervo começa no cruzamento da Avenida Mato Grosso com a Calógeras.

Por Expressão Naviraí em 14/02/2024 às 08:22:28

A aglomeração de milhares de pessoas é o indicativo de que o fervo começa no cruzamento da Avenida Mato Grosso com a Calógeras. Tirando o xixi no lugar errado, este ano a garotada se comportou. Nos balanços da polícia, o clima geral foi de paz e amor. Mas a recompensa nunca chega. Entra ano, sai ano, a maior festa popular da Capital de Mato Grosso do Sul segue na base do improviso, longe da profissionalização, como primo pobre dos eventos na cidade. . Prefeitura e Estado dividem responsabilidades como montagem de palco, sonorização, cachê dos músicos, segurança da Polícia Militar e da Guarda Metropolitana. Sem dinheiro vivo na conta dos blocos, nem um pórtico meia-boca na entrada é possível providenciar para evidenciar a dimensão do que acontece ali. Pedir uma identidade visual é luxo diante da cena da gambiarra, com gente entrando pela mesma barreira policial por onde o povo sai. Mesmo assim, mais de 20 mil pessoas aparecem todos os dias. Sem show nacional, teve mais gente ao som de bandas locais do que para ouvir a cantora Ludmilla em evento com dinheiro graúdo, realizado em 2022. Ela bateu recorde de público no Campão Cultural, levando 15 mil pessoas para a Esplanada Ferroviária ao custo de R$ 275 mil só em cachê, conforme publicação da Fundação Estadual de Cultura. A sorte dos blocos é que campo-grandense também quer se sentir brasileiro e segue fazendo a festa quase que sozinho em fevereiro. Espalha brilho no corpo, investe na fantasia, mas quando a noite cai, fica todo mundo cinza, no breu, sem uma iluminação que preste. Quem quer aparecer, tem de ficar na frente do pequeno palco, único lugar com holofotes. E era para ele ser ainda menor. "Cresceu" por pressão dos organizadores. No lugar da arquitetura antiga, casas que contam a história da cidade são escondidas por barracas de batidinha, uma de cada cor, sem qualquer padronização e movidas a cabos de energia à mostra. O carro de som para contagiar o folião durante cortejos pelo Centro só ganha do homem da pamonha. É o que dá para pagar sem investimento público de peso, ou pressão do comércio que em dezembro garante o "espírito natalino" e capricho na decoração da Cidade do Natal, glamour iluminado dos Altos da Afonso Pena que nem de longe chega à Esplanada Ferroviária. "O nosso Carnaval é família. Então acredito que se tiver o mesmo olhar da Cidade do Natal, a estrutura melhoraria muito. O carnaval de rua em Campo Grande tem tomado uma proporção muito grande, então é importante esse olhar para a festa", diz a esteticista Deise Damaceno. A festa pagã não tem vez, apesar de famílias baterem ponto com bebês no colo ou crianças pelas mãos. "Já brinquei muito e agora trouxe meus netos.Tem bastante policiamento e eu gostei. Acho que deveria ter mais enfeites como na Praça do Papa. É isso que falta aqui", diz. Rosângela Viera, de 54 anos. Os blocos seguram a folia no laço, com o que arrecadam durante os pré-carnavais ou na venda de bebidas nos dias de folia. Mesmo assim, sem gente suficiente para organizar e fiscalizar o rolê, fica difícil a concorrência para quem tem de pagar para estar ali. "Todo mundo entra com bebida de fora. Tem gente que vende na nossa frente pela metade do preço. Nós aqui do bar oficial, temos que dar uma ajuda de custo, então para nós seria bom se fosse um coisa fechada e que não pudesse entrar (bebida). Nós estamos trabalhando para ganhar. Todo mundo que trabalha sabe que não está fácil", diz Alberto Brentegani, de 75 anos. Nas contas de um dos blocos, o gasto em dois dias é de R$ 70 mil, com pagamento de produção, segurança privada e divulgação. Nos mesmos cálculos, para um Carnaval profissional seria necessário o valor de R$ 1 milhão. Para Vitor Samudio, diretor do bloco Capivara Blasé, já "deu". Passou da hora de profissionalizar o esquema, criando um "protocolo de Carnaval". "Não é o Carnaval que Campo Grande merece, mas é o que a gente do Capivara e do Valu conseguimos fazer na raça, sem apoio. São Paulo, por exemplo, é o que é hoje porque há 10 anos criaram um protocolo de Carnaval lá". Em todo canto, é o tipo de festa que gera renda não só para os ambulantes. Movimenta o comércio de acessórios e fantasias, lota bares, gera renda para artistas, segura muita gente que antes viajava para pular em outras bandas, atrai turistas que já sabem do tamanho do evento e faz uma geração de jovens pegar gosto por viver em uma cidade com fama de chata. Por aqui, nada disso incentiva investimentos. Nenhuma grande marca, um supermercado ou rede de fast food patrocina o evento. O máximo que os blocos têm é desconto na cerveja, para vender mais barato nas barracas oficias. Para Vitor, não haverá um grande patrocinador enquanto o Carnaval não tiver estrutura. "O grande debate que temos de começar agora é para mudar esse cenário. Estamos falando da maior festa pública de Mato Grosso do Sul. Passamos Corumbá e não temos nenhum financiamento. É inconcebível ainda ter de depender venda de bebidas", reclama Ele garante que Campo Grande chega a reunir 40 mil pessoas em uma noite, mesmo sem incentivos. Por isso fala em já ter superado Corumbá, que tem público médio de 30 mil, com apoio de governo, prefeitura e iniciativa privada. Considerada a dona do maior Carnaval do Centro-Oeste, pela estrutura profissional de 8 dias de festa, independente de quem ganha em números, a Cidade Branca vence de lavada quando o quesito é lucro com a maior festa popular do Brasil. Por lá, todo ano em fevereiro movimenta cerca de R$ 20 milhões, e olha que a cidade tem menos de 100 mil habitantes. O município confirma a dimensão da festa na Esplanada. "O Carnaval de rua de 2024 recebeu o maior público da história de Campo Grande, totalizando até o presente momento aproximadamente mais de 70 mil foliões e não havendo nenhuma ocorrência". Mas a prefeitura de Campo Grande não fala sobre os planos de 2025, nem sobre repasse em dinheiro. Diz que disponibilizou 122 banheiros químicos, que entrou com segurança e que investiu no Carnaval das escolas de samba, na Praça do Papa. Já a Secretaria Estadual de Cultura afirma que Governo do Estado de Mato Grosso do Sul investiu na estrutura de som e luz dos palcos e também pagou as atrações musicais dos blocos. Fora isso, reforçou o efetivo da PM e do Corpo de Bombeiros, e levou campanhas de conscientização ocuparam espaço, como Detran, e Conselho Estadual dos Direitos da Mulher.

Fonte: CGNEWS

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