Em tempos de Pix, tudo é mais complicado para famílias que sem cartão bancário

Com cada vez mais pessoas substituindo a boa e velha carteira de couro pela carteira digital, o que a falta de uma conta bancária significaria para você? A facilidade de transações na modalidade Pix, ou ter disponível um cartão de crédito em momentos de emergência, salvam a pele e facilitam a vida de muitos consumidores.

Por Expressão Naviraí em 16/02/2024 às 16:47:27

Com cada vez mais pessoas substituindo a boa e velha carteira de couro pela carteira digital, o que a falta de uma conta bancária significaria para você? A facilidade de transações na modalidade Pix, ou ter disponível um cartão de crédito em momentos de emergência, salvam a pele e facilitam a vida de muitos consumidores. Mas para quem não tem conta no banco e nem limite de crédito, o jeito é "se virar nos trinta" e fazer o dinheiro físico render até o final do mês. Nas ruas da comunidade Só Por Deus, que fica na região do Jardim Centro Oeste, em Campo Grande, a reportagem flagrou uma cena pouco comum em bairros mais próximos da região central: um vendedor de verduras, que circula com o porta-malas aberto em baixa velocidade, com uma caixa de som que anunciava que "o vendedor de verduras está passando na rua". Quando abordado, o senhor recebia uma nota de R$ 20, em troca dos pés de alfaces e outras folhagens que havia acabado de vender para o almoço de alguém. Sem querer se identificar, ele apenas se limitou a dizer que "eu não mexo com essa coisa de pix e cartão, meu filho até mexe, mas comigo é só no dinheiro". A maneira de fazer negócio, no entanto, é bem oportuna, em uma região onde poucas pessoas poderiam pagar nessas modalidades, já que tudo que possuem é dinheiro vivo, como é o caso da dona de casa Adriana Pereira dos Santos, de 37 anos, que mora com as filhas de 2 anos e de 2 meses. Sua fonte de renda é o auxílio do Bolsa Família, de R$ 700. Pelo menos 70% do benefício é destinado a bancar a alimentação. Como ela não trabalha, ela não tem conta em banco. Ela retira o auxílio em uma casa lotérica próxima à comunidade. Quando a situação aperta, ela recorre à mãe, ou às vizinhas, que ajudam oferecendo alimentos para ela e as filhas. "Passo sufoco todo dia, faltam as coisas em casa. Um crédito seria de grande ajuda. Mas primeiro eu tinha que arrumar um serviço pra trabalhar, mas eu tenho o meu bebezinho agora, e ele é muito pequenininho, então tenho que esperar ela pegar uma idade pra eu trabalhar", relata Adriana Santos. Apesar de ter conta bancária, o aposentado Ari Araújo Guimarães, de 67 anos, diz que não sabe mexer com pix, e que não tem interesse em um cartão de crédito, pois "os juros são muito altos". "Pego emprestado com os outros ou faço minhas economias. E quando eu vou fazer alguma compra grande, eu faço no boleto, direto na loja. Se não tem essa opção, eu não compro", enfatiza. O cenário não é diferente na comunidade Esperança, na região do Bairro Noroeste, onde mora a doméstica Claudemir da Silva, de 48 anos. Ela conta que recebe o valor referente a um salário mínimo todo final de mês. Ela não possui conta bancária, então recebe o dinheiro em mãos. Ela divide o dinheiro entre as despesas básicas da casa, priorizando a comida. Quando sobra alguma quantia, utiliza para emergências ou lazer, sem sair da região onde mora. Mas quando o dinheiro acaba, não tem o que fazer, precisa esperar o final do mês para receber de novo ou catar latinhas e "trocar por alguns trocados". Claudemir mora com os filhos e os netos, e ninguém na casa tem conta bancária, então Claudemir não tem a quem recorrer para pedir um crédito emprestado. Ela conta que a filha mais velha tentou crédito no banco, para fazer um cartão e agora aguarda para ver se liberam. Se liberassem, isso significaria uma segurança a mais para a família em momentos de "aperto". Ela não faz tanta questão do pix, pois acredita que dinheiro vivo é uma opção mais segura e nunca teve nenhum tipo de problema com isso. Mas diz que um cartão de crédito seguraria muito as pontas em momentos de aperto, além de achar a opção "melhor e mais prática, principalmente em caso de emergência". "A gente sempre precisa, porque às vezes vai para algum lugar ou acontece alguma coisa. Seria uma ótima opção, porque muitas vezes a gente precisa muito. Às vezes na hora que você não tem nada [dinheiro físico], se você tem um troquinho [crédito] ali, dá mais segurança", diz Claudemir da Silva. Na comunidade Dorcelina Folador, localizada entre as saídas para o Estado de São Paulo e o município de Sidrolândia, para a dona de casa Aparecida Tatiana Teles, de 39 anos, não ter uma conta bancária não faz falta, pois prefere administrar o dinheiro que recebe por conta, para evitar "gastar o que não tem". Ela relata que os filhos têm conta bancária e mexem com serviços tipo o pix, então se houver alguma necessidade, eles podem resolver, já que moram todos juntos na mesma casa. Ela presta serviços gerais, e quando faz algum serviço para alguém, só aceita receber em dinheiro vivo. Não costuma passar aperto sem pix ou cartão de crédito, pois se limita a gastar apenas o dinheiro que tem. "Nunca tive mesmo essas coisas, então aqui não faz falta não. A gente pega o auxílio, o meu filho trabalha, a minha irmã trabalha e minha outra irmã também pega o auxílio dela e faz uns bicos, é assim que a gente sobrevive. Dá pra manter, pagar uma conta, pagar outra, e sobra um dinheirinho ainda", relata Aparecida Teles. Ela teme que, se tivesse um cartão de crédito, não conseguiria se controlar. "Se tivesse eu não ia só gastar um pouquinho. Você tem um cartão, tem um limite, aí você vai estourar aquele limite e quando você vê, já não tem mais nada". Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais .

Fonte: CGNEWS

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